CASAL DO FOZ A TERCEIRA LENDA

Sem duvida, o Brasil é o País do futuro. Há apenas, de não se adiar esse futuro.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

AMOR NA GUERRA

ÍCONES DA GUERRA

No dia vinte e três de Outubro, havia intranquilidade no comando do Batalhão, sito em Muxaluando, uma coluna militar a rodar para aquela posição foi atacada, sofrendo duas baixas mortais, mais alguns feridos.
Era um dia de muita chuva, vários acampamentos da região estavam também a ser atacados, todo o pelotão a que Onofre pertencia, estava de prevenção face ao conflito, tendo depois seguido em missão de auxílio.
Chegado o reforço, foi-lhe destinada uma ida a Nambuangongo, com o fim de se trazer sob escolta, um carro pronto-socorro, para se recolherem as viaturas sinistradas no ataque, que destruiu a sua autonomia de locomoção.
Não havia viatura do género disponível, pelo que,sempre pronta a entrar em acção, a coluna voltou como tinha seguido e ficava na sede do Batalhão alerta para actuar, se fosse necessário.
Banho, não sem humor, nas fragas dio rio Luaca, a cerca de trinta Km
a sul de Nanbuangongo

Como entretanto tinham seguido outros reforços disponíveis, os mesmos ao voltarem foram surpreendidos com o rebentamento duma mina anti-carro, a primeira com que o Batalhão se deparou, talvez uma daquelas que deu início a novo tipo de guerrilha.
Resultaram vários feridos, entre os mesmos, um Alferes que ficou com as pernas praticamente decepadas. Veio a ser baixa mortal, já verificada no posto de socorros de Muxaluando.
No mesmo dia a aviação interveio, o serviu apenas para verificar terem ficado no terreno mais algumas viaturas destruídas.
Depois de um período mais calmo na actividade terrorista, tinha começado uma nova fase da guerrilha e por causa das minas anti-carro os oficiais deixaram de andar na frente nos Jeeps pessoais, para andarem nos Unimogs, fazendo parte integrante do pessoal que estes transportavam.
Na dianteira de cada coluna, passou a seguir uma camioneta GMC, extremamente pesada e com uma frente grande a qual podia provocar o rebentamento sem afectar o próprio condutor.
Aquele monstro passou a andar com a caixa cheia de sacos de areia, afim de se tornar ainda mais pesado e por isso menos vulnerável.
As GMC e outros veículos, que dotavam todas as companhias militares, eram resíduos da motorização que tinha servido a Segunda Grande Guerra e que depois vieram para Portugal.
O grande conflito tinha chegado ao fim em 1945, em 1962 havia ainda poucos anos. Afinal todos os militares tinham nascido ainda no tempo em que o maior conflito bélico do mundo grassava.
Ao passar a noite de sete, precisamente à uma hora calhou de novo a Onofre e companhia, com outras unidades, integrar uma escolta.
Uma metralhora Breda e a respectiva equipa montados
em jeep blindado

Por alguns dias, a força de cobertura da deslocação a proceder a uma importante operação, esteve aquartelado na Fazenda Três-Marias.
A dormida era conjunta com os colonos, que se encarregavam de zelar nos trabalhos a efectuar por indígenas de raça bailunda, por mais fácil adaptação..
A trinta e um foi a guarnição ao encontro da tropa em operação, na picada próxima, com passagem pelos destroços das viaturas, momentaneamente abandonadas, recolhendo e transportando alguns de imediato.
A seguir, logo a um de Novembro, houve mais uma espécie de destacamento para Muxaluando de um grupo do pelotão a que Onofre pertencia. A missão era a da equipa da Breda escoltar o grupo de militares do esquadrão do comando, escalados para transportar o resto dos destroços das viaturas, deixadas no terreno, após o duro golpe sofrido na picada havia poucos dias. O que veio a acontecer.
Depois de realizada a operação, Onofre, Esquim Pinto, Teodoro e Gastão, com todo o equipamento, ficaram três dias junto do Batalhão, o que depois dos acontecimentos, emprestava maior segurança, já que aquele aquartelamento não estava munido de equipas de metralhadoras pesadas, ao contrário dos restantes três esquadrões.
Em Muxaluando ouvia-se comentar, seriam aquelas armas pesadas, que os terroristas apelidavam de costureirinhas, pela rapidez e poder de fogo que realmente possuíam, a reforçar a segurança.
No breve destacamento, para um observador e com espírito aventureiro, tudo servia de reflexão.
Então um dia assistiu-se a um daqueles desafios de futebol, não tão improvisado, como poderia parecer, porque era vulgar em qualquer acampamento militar.
Observou-se um dos guarda-redes ser o segundo comandante da força, o Major Caldeira, já de certa idade.
Pelo elevado posto e pela própria idade, não lhe seria apropriada a dedicação à ao tipo de exercício, mesmo usado uma camisola regulamentar, por ser um pouco forte para poder vestir a camisola do próprio equipamento desportivo.
Era do conhecimento geral, o homem padecer da "bola", tanto mais que era um bom motivo para conversas anedóticas, entre os seus comandados.
Já era então conhecido pela alcunha do "pai da Cuca", pela dedicação à bebida alcoólica, mais usada na Colónia de Angola.
Diga-se que nas cantinas da tropa, o seu custo ficava em metade, o que se tornava mais um aliciante.
No dia quatro deu-se o regresso ao Tari, não sendo novidade absoluta, na parede de uma das casernas, a primitiva que continuava a funcionar, só com um pelotão, ver-se incrustada uma imagem da Senhora de Fátima.
O ícone, uma espécie de troféu apreendido numa batida, teria sido arrancando pelos terroristas em alguma fazenda abandonada, depois de atacada.
O Comandante Alves Ribeiro achou por bem mandar colocá-la num nicho, bem visível, na parede do grande edifício, que apesar de sido arranjado, nomeadamente na cobertura, depois de vandalizado pela guerrilha, que permaneceu com a pedra da parede à vista.

Daniel Costa

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